Full text: XI. Jahrbuch der Export-Akademie des K. K. Österreichischen Handels-Museums (11)

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frio, como as sedas da juba de um leäo irritado. Nos olhos amorte- 
cidos faiscou instantaneo, mas terrivel, o sombrio claräo de uma co- 
lera, em que todas as ancias insoffridas da vinganga se accumulavam. 
Em um impeto, a presetiga reassumiu as proporgöes magestosas 
e erectas, como se lhe corresse nas veias o sangue do mancebo que 
perdera. Levando por acto instinctivo a mäo ao lado, para arrancar 
a espada, meneou tristemente a cabega. A sua boa espada, cingira-a 
eile proprio ao filho n’este dia que se convertera para a sua casa em 
dia de eterno lucto! 
Sem querer ouvir nada, desceu os degraus do amphitheatro, se- 
guro e resoluto como se as neves de setenta annos lhe näo branque- 
assem a cabega. 
— Sua magestade ordena ao marquez de Marialva, que aguarde 
as suas Ordens — disse um camarista detendo-o pelo brago. 
O velho fidalgo estremeceu como se acordasse sobresaltado, e 
cravou no interlocutor os olhos desvairados, em que reluzia o folgor 
concentrado de um pensamento immutavel. 
Desviando depois a mäo que o suspendia, baixou mais dois degraus. 
— Sua magestade entende que este dia ja foi bastante desgra- 
gado e näo quer perder n’elle dois vassallos . . . O marquez desobe- 
dece äs Ordens d’el-rei?! . . . 
— El-rei manda nos vivos e eu vou morrer! — atalhou o 
anciäo em voz aspera, mas sumida. - Aquelle e o corpo de meu 
filho! — e apontava para o cadaver. — Estä ali! Sua magestade pöde 
tudo, menos desarmar o brago do pae, menos deshonrar os cabellos 
brancos do creado que o serve ha tantos annos. Deixe-me passar, e 
diga isto. 
D. Josä vira o marquez levantar-se e percebera a sua resolugäo. 
Amava no estribeiro mör as virtudes e a lealdade nunca desmentidas. 
Sabia que da sua bocca näo ouvira senäo a verdade, e a idba de o 
perder assim era-lhe insupportavel. Apenas lhe constou que eile näo 
accedia ä sua vontade, fez-se branco, cerrou os dentes convulsos, e, 
debrugado para föra da tribuna, aguardou em ancioso silencio o des- 
fecho da catastrophe. 
A esse tempo jä o marquez pisava a praga, firme e intrepido 
como os antigos romanos diante da morte. Dentro do peito o seu 
coragäo chorava, mas os olhos aridos queimavam as lagrimas quando 
subiam a rebentar por elles. Primeiro do que tudo queria a vinganga. 
Por impulso instantaneo, todo o ajuntamento se poz de pd Os 
semblantes consternados e os olhos arrazados de agua, exprimiam 
aquella dolorosa contensäo do espirito, em que um sentido parece 
concentrar todas. 
Deixae-o ir ao velho fidalgo! A magua que o traspassa, näo tem 
egual. O fogo que lhe presta vida e forgas, h a desesperagäo. Deixae-o 
ir, e de joelhos! Saudae a magestade do infortunio! 
O pae angustiado ajoelhou junto do corpo do filho e pousou- 
lhe um osculo na fronte. Desabrochou-lhe depois o talim e cingiu-o,
	        
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