Full text: XI. Jahrbuch der Export-Akademie des K. K. Österreichischen Handels-Museums (11)

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levantou-lhe do chäo a espada, e correu-lhe a vista pelo fio e pela 
ponta de dois gumes. Passou depois a capa no brago e cobriu-se. 
Decorridos instantes estava no meio da praga e devorava o toiro com 
a vista chammejante, provocando-o para o combate. 
Cortado de commogöes täo crueis, näo lhe tremia o brago, e 
os pes arreigavam-se na arena como se um poder occulto e superior 
lh’os tivesse ligado repentinamente ä terra. 
Fez se no circo um silencio gelido, tremendo e täo profundo, 
que poderiam ouvir se ate as pulsagöes do coragäo do marquez, se 
n’aquella alma de bronze o coragäo valesse mais do que a vontade. 
O toiro arremette contra eile . . . L ina e muitas vezes o investe 
cego e irado, mas a destreza do marquez esquiva sempre a pancada. 
Os ilhaes da fera arfam de fadiga, a espuma franja-lhe a bocca, 
as pernas vergam e resvalam, e os olhos amortecem de cansago. O 
anciäo zomba da sua furia. Calculando as distancias, frusta-lhe todos 
os golpes sein recuar um passo. 
O combate demora-se. 
A vida dos espectadores resume-se nos olhos. 
Nenhum ousa desviar a vista de cima da praga. 
A immensidade da catastrophe immobilisa todas. 
De subito solta el-rei um grito e recolhe-se para dentro da tri- 
buna. O velho aparava a peito descoberto a marrada do toiro, e 
quasi todos ajoelharam para resarem por alma do utimo marquez de 
Marialva. 
A affiictiva pausa apenas durou momeutos. Por entre as nevoas 
viu-se o homem crescer para a tera, a espada fusilar nos ares, e logo 
apös sumir-se atb aos copos entre a nuca do animal. Um bramido, 
que atroou o circo, e o baque do corpo agigantado na arena encer- 
ram o extremo acto do funesto drama. 
Clamores Unisonos saudaram a victoria. O marquez que tinha 
dobrado o joelho com a forga do golpe, levantava se mais branco 
do que um cadaver. Sem fazer caso dos que o rodeavam, tornou a 
abragar-se com o corpo do filho, banhando-o de lagrimas e cobrindo-o 
de beijos. 
O toiro ergueu-se, e, cambaleando com a sesäo da morte, veiu 
apjljiar o sitio onde queria expirar. Ajuntou ali os membros, e deixou- 
os cair sem vida ao lado do cavallo do conde dos Arcos. 
N’esse momento os espectadores, olhando para a tribuna real, 
estremeceram. El-rei, de pe e muito pallido, tinha junto de si o mar 
quez de Pombal, coberto de pö e com signaes de ter viajado de pressa. 
Sebastiäo Josd de Carvalho voltava de proposito as costas ä 
praga, fallando com o monarcha. Punia assim a barbaridade do circo. 
- Temos guerra com a Hespanha, senhor. E inevitavel. Yossa 
magestade näo pöde consentir que os toiros lhe matem o tempo e os 
vassallos! Se continuassemas n’este caminho . . . cedo iria Portugal ä vela. 
Foi a ultima corrida, marquez. A morte do conde dos Arcos 
acabou os toiros reaes em quanto eu reinar.
	        
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