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56.
Amigo,
Camillo C. Br. agradece a V. Ex. a a sua attenpäo inalteravel e
generosa.
Quanto a saude, a sufficiente para estar ainda ä superficie da
ultima camada geologica.
Sempre do eora^äo
Camillo Castello Branco.
57.
Meu amigo,
Ha vinte annos que eu vivi em sua companhia,
T.embra-se d'aquelle incorrigivel rapaz de quatorze annos, que ia
ä venda da Serra do Mesio jogar a bisca com os carvoeiros, e a bordo-
ada muitas vezes?
Esse rapaz sou eu; 6 este velho, que lhe escreve aqui do cubi-
culo de um hospital, muito visinho do cemiterio dos Prazeres.
Eu aquelle a quem padre Antonio de Azevedo ensinou princi-
pios de solpha, e as declinapöes da arte franceza.
Sou aquelle que leu em sua casa as »Viagens de Cyro« os
»Luziadas« e outros livros, que foram os primeiros.
Sou aquelle que, sem saber latim, resava matinas, laudes, terpa,
sexta etc. com padre Antonio.
Sou, finalmente, aquelle, a quem padre Antonio disse: »o tempo
ha de fazer de voc6 alguma cousa.«
Passados vinte e tres annos, como eu acabasse de escrever o
quadragesimo segundo volume, lembrou-me dedicar-lh’o, meu venerando
amigo, e rogar-lhe que pepa a Deus por mim.
Lisboa, 22 de junho de 1863-
Camillo Castello Branco.
58.
Meu amigo,
Uma das grandes venturas da minha vida consiste em ter esca-
pado ao High-Life do Illustrado. Voce intenta fazer-me sair de täo
commoda e venturosa obscuridade, e eu näo terei provavelmente forpas
para o demover do proposito de me enfileirar entre as celebridades
do paiz. Resigno-me pois a enviar-lhe os esclarecimentos que me pede.
A minha biographia 6 pobrissima.
Nascimento: Santarem, 30 de novembro de 1846.
Diplomas litterarios: Nenhuns. Simples estudos de humanidades
n’um deshumano lyceo da terra.