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62. Epitaphio.
O gran juizo esperando,
Ja<jo aqui nesta rnorada;
Tambem da vida cansada
Descansando. —
Pergunta-me quem fui eu,
Attenta bem pera mi,
Porque tal fui coma ti,
E tal has de ser com’eu.
E pois tudo a isto vem,
O lector, de meu conselho,
Toma-me por teu espelho,
Olha-me e olha-te bem.. —
Gtl Vicente.
63. O juramento do arabe.
1. Baqüs, mulher de Ali, pastora de cam61as,
Viu de noite, ao fulgor das rütilas estrellas,
Wail, chefe minaz de barbara pujanqa,
Matar-lhe um animal. Bagüs jurou vinganqa:
Corre, c^lera voa, entra na tenda e conta
A um hospede de Ali a grave e inulta affronta.
2. »Baqüs, disse tranquilo o hospede gentil,
Vingar-te-hei com meu bra^o, eu materei Wail.«
Disse e cumpriu.
Foi esta a causa verdadeira
Da guerra pertinaz, horrivel, carniceira
Que as tribus dividiu. Na lucta fratricida
Omar, filho de Amrü, perdera o alento e a vida.
3. Amrü que lanqas mil aos rüdes prülios leva,
E que, em sangue inimigo, irado os odios cdva,
Incansavel procura, e € sempre embalde, o vil
Matador de seu filho, o tredo Muhalhil.
4. Uma noite, na tenda, a um moqo prisioneiro,
Recem-colhido em campo, o indomito guerreiro
Fallou severo assim :
»Escravo, attende, e escuta:
Aponta-me a regiäo, o monte, o plaino, a gruta,
Em que vive o traidor Muhalhil, dize a verdade;
Dä-me que o alcance vivo, e 6 tua a liberdade!«