cados. Aquelle que quizesse ingerir um genero alimentar crimino-
samente adulterado teria menos probabilidades de o encontrar do que
de lhe sair a Sorte grande. —
3. O que realmente ha em Portugal näo säo generös falsifi-
cados, mas sim generös technologicamente imperfeitos.
Generos falsificados, isto 6, dolosamente alterados para enganar
o consumidor, pode-se quasi dizer que os näo ha. O que ha säo
generös technologicamente imperfeitos. O publico bem sabe, e sente
bem, que a grande maioria dos generös alimenticios näo fern äs qua-
lidades e propriedades de generös perfeitos, legitimes filhos d’uma
technologia apurada. Sabe-o por comparagäo, que 6 a mais pura fönte
de todo o saber, por comparagäo adquirida pelas viagens no estrangeiro,
hoje accessiveis a todos; por comparagäo com os proprios productos
nacionaes, que tambem os ha täo bons ou melhores que os do estran
geiro, ainda que, infelizmente, formando minoria. E este o facto que
o publico verifica. Sobre a realidade d esse facto näo ha discussäo
possivel. Säo coisas palpaveis, evidentes. O vinho, o assucar, o leite, o
mel, a cerveja, o päo, por exemplo, näo säo como o päo, a cerveja,
o mel, o leite, o assucar e o vinho que se bebem ou se comem na
Europa: em Paris ou Copenhague, em Berlim ou Vienna, em Londres
ou Madrid. Sobre isto, repito, näo se engana o publico. A observagäo
6 perfeitamente justa, direita. A explicagäo que o publico dä 6 que,
porem, 6 torta.
Evidentemente o mais simples seria suppör que os generös säo
mal acabados; imitagöes imperfeitas de productos technologicamente
perfeitos. Mais simples e mais verosimil, porque, para obter generös
d’esta natureza, bastam a ingnorancia ou o desleixo ou ambas as coisas.
E d’isso tudo ha abundancia nas terras de Portugal. Mas por que
motivo näo acceita e perfilha entäo toda a gente esta explicagäo, täo
simples e ao mesmo tempo täo verdadeira. Creio que por esta razäo
na apparencia inverosimil; precisamente por ser simples. O homem 6
assim feito: prefere, muita vez o complexo, o mysterioso, o que se näo
possa provar. Por isso rejettando esta explicagäo täo comesinha e täo
racional de factos alias bem observados, admitte, e d isso estä con-
vencido, que os generös säo falsificados. Quer dizer. imitados, näo
passivamente, por ignorancia ou desleixo, mas activamente, pela arte,
pela finura, pela esperteza de quem os manipula. Näo se reflecte que
para haver uma tal arte seria preciso haver uma civilisagäo requintada,
que infelizmente nos, näo podemos gabar de ter. Le-se talvez nos livros
e nos jornaes que nos chegam do estrangeiro que a falsificagäo dos
generös campeia infrene e imagina-se, sem mais detenga, que tambem
gosamos de täo triste prerogativa. Nem n’isso se pensa, parece. Como
tambem se näo ve que seria uma anomalia inexplicavel que nos labora-
torios portuguezes com installagöes eguaes, e por vezes superiores äs
do estrangeiro, onde trabalham chimicos analystas cuja competencia