30
20. Descobrimentos dos portuguezes.
Houve um momento seguramente em que a nossa fama echoou
em toda a Europa, em que os tiossos feitos foram apregoados, tradu-
zidas as relagöes dos nossos viajantes, ouvida com admiragäo a nar-
rativa dos nossos descobrimentos. Dos mais remotos paizes da Europa
vinham os mais illustres estrangeiros sollicitar um logar a bordo das
nossas caravelas.
O sueco Valarte, o allemäo Balthasar, o veneziano Cadamosto,
o genovez Antonio Usodimare, acudiram, logo nos primeiros tempos
das nossas navegagöes, enthusiasmados com as noticias que dos nossos
feitos tinham chegado äs suas terras nataes e grande devia ser o
assombro causado em toda a Europa para que täo promptamente se
espalhasse, em täo remotas regiöes e em epocha täo pouco sociavel,
a fama dos emprehendimeutos portuguezes — acudiram a pedir um
logar nos nossos navios, um quinhäo nas nossas aventuras. Os mais
illustres homens da sciencia d’essa epocha vinham procurar o ensino
dos nossos cosmographos e as ligöes dos nossos pilotos,. como hoje se
pöde ir procurar aos grandes centros scientificos de Franga ou de
Allemanha a instruccäo, que ahi se colhe da boca de sapientissimos
professores. Martim de Behaim, o primeiro astronomo do seu tempo,
veiu establecer-se na nossa corte, e fixou depois nos Agores a sua
vida estudiosa; Christoväo Colombo na ilha da Madeira cultivou com
o trato e com os ligöes dos pilotos portuguezes, o seu genio, pre-
destinado a dar um mundo novo a Hespanha, a Europa e a civilisagäo;
Amerigo Vespucci, que devia dar o seu nome a esse mundo novo, a
bordo dos navios portuguezes serviu e praticou. A cartographia europea
aos nossos marcantes pediu as indicacöes, que Ihe deviam servir para
rectificar nos mappas as linhas caprichosas, conjecturaes e erradas de
Ptolomeo, e para encher com os dados positivos dos navegantes o
vasto espago em branco, que attestava nas cartas de Africa a igno-
rancia dos antigos; e tanto assim era que, se todas as chronicas dos
nossos descobrimentos houvessem desapparecido, nos atlas da edade
media se podia seguir passo a passo a carreira dos nossos nave-
gadores, porque o lapis dos cartographos acompanha de anno para
anno nos mappas europeus o progresso das nossas quilhas nos mares
africanos.
M. Pinheiro Chagas
(1842—1895).
21. A ilha da Madeira.
K chamada a Flor do Oceano em razäo das bellezas que encerra.
Quem partir de Lisboa no vapor que faz a carreira das ilhas,
chega ao cabo de dois dias, pouco mais ou menos, ao porto de
Eunchal.
Esta cidade 6 a Capital da Madeira e do districto administrativo
formado pela mesma ilha e pela do Porto Santo.