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para regiöes desconhecidas, de perlustrar a terra em todas as direcgöes,
de frecpaentar os povos ate entäo ignorados, de multiplicar os recursos
soclaes, de trasbordar da Europa as populagöes insoffridas nos limites
ja estreitos do antigo mundo romano.
Em ambos os seculos ha duas grandes manifestagöes da activi-
dade humana, que desdenham as normas conhecidas, para absorverem
quasi por si sös a vida das nagöes: pensar e caminhar. Eis alii os
dois aspectos capitaes por que estes seculos se revelam. e destacam
magestosos na serie dos tempos civilisados: o movimento espiritual e
o movimento material. No seculo XV apparece a invengäo da imprensa,
a primeira investidura solemne do pensamento na soberania que desde
entäo näo tem deixado de exercer. No seculo XIX a telegraphia
electrica, que ha-de-fazer da terra inteira o foro universal da gründe
republica da humanidade, onde a palavra dos povos mais distantes
se cruzarä nos fios mysteriosos que a electricidade percorre num
momento. No seculo XV principiam as navegagöes aventureiras, que
encurtam pelo mar as maiores distancias da terra. No seculo XIX näo
sömente as pasmosas navegagöes, que fazem do vasto mar a estrada
real de toda a humanidade, senäo tambem as vias ferreas, que con-
centram quasi num so ponto as mais extensas republicas e as mais
populosas monarchias.
J. M. Latino Coelho
(1825-1891).
24. Coisas da India.
O sr. Hypacio de Brion, illustre official de marinha e antigo
deputado, espirito brilhante e erudito, expoz na Sociedade de Geogra-
phia, perante um auditorio selectissimo, as suas impressöes pessoaes
äcerca da India portugueza, com uma proficiencia deveras notavel e
com primor de linguagem que a todos interessou. A seguir se publica
essa brilhante conferencia, que constitue, sem duvida, uma das mais
eloquentes e impressivas monographias äcerca da India:
Sr. presidente, minhas senhoras e meus senhores. Agradego a
v. ex. a , sr. presidente, as palavras amaveis com que me apresentou a
esta assemblea, onde tenho a honra de me apresentar pela primeira
vez, palavras inspiradas mais pela amisade do que pela justiga, e a
v.as ex _as digo que näo poderei nem satisfazer o meu desejo mein a
vossa espectativa. Estou aqui no cumprimento d’um dever, desem-
penhando-me d’uma difficil missäo, mas entendi que näo devia recusar
■o convite, que täo amavelmente me foi feito, e ainda pela razäo de
näo se tratar d’uma conferencia ou dissertagäo, para o que eu seria
completamente incompetente, mas sim d’uma palestra que servisse
como que de prologo ä apresentagäo de algumas projecgöes photo-
graphicas, que de certo vos interessaräo mais do que o que eu vos
possa dizer.