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penso que o portuguez estä para o hespanhol como o dinamarquez
para o sueco.
Para mim a sua pronuncia näo deixa de ter um certo encanto,
isto, e claro, quando bem declamado, e näo como fazem muitos por-
tuguezes, que ora gritam exaggeradamente, ora falam baixo. Mas a
recta pronuncia das palavras parece-me muito difficil. Mal poderä
aprende-la o estrangeiro que näo vier para Portugal em tenra edade.
Säo principalmente os sons nasaes e guturaes que se tornam difficeis
de emittir. Näo 6 possivel, com as nossas lettras, reproduzi-los con-
venientemente. Para se fazer ideia 6 necessario ouvi-los; mas a maior
parte dos estrangeiros näo teem o ouvido sufficientemente apurado
para notarem differengas quasi imperceptiveis em certos sons. ß neces
sario um longo habito e uma longa practica, em convivio com portu-
guezes, para que o ouvido chegue a marcar essas differengas. Mas o
mais difficil de tudo säo certos sons, com a bocca contrafeita. Esses,
raros estrangeiros conseguem reproduzi-los; mas isto näo os priva de
comprehender e tomar parte n'uma conversa em portuguez. —
B. Ferreira
(Diario de Noticias, Chronica scientifica).
30. A lingua portugueza 1 ).
A nossa lingua portugueza 6 branda para deleitar, grave para
engrandecer, efficaz para mover, doce para pronunciar, breve para
resolver, e accommodada äs materias mais importantes da pratica e
escriptura.
Para fallar ö engragada, com um modo senhoril. Para cantar 6
suave, com um certo sentimento que favorece a musica. Para pregar
e substanciosa, com uma gravidade que auctorisa as razöes e as sen-
tengas. Para escrever as cartas, nem tem infinita copia que damne,
nem brevidade esteril que a limite. Para historias nem 6 täo . florida
que se derrame, nem täo secca que busque o favor das alheias.
A pronunciagäo näo obriga a ferir o ceo da bocca com asperesa,
nein a arrancar as palavras com vehemencia do gargalo, escreve-se
da maneira que se le e assim se falla, tem de todas as linguas o
raelhor: a pronunciagäo da latina, a familiaridade da castelbana, a
brandura da franceza, a elegancia da italiana, tem mais adagios e
sentengas que todas as vulgares, em f6 da sua antiguidade. E se a
lingua hebrea, pela honestidade das palavras chamaram santa, certo
que näo sei eu otra que tanto fuja de palavras claras em materia
descomposta, quanto a nossa. E para que diga tudo, sö um mal tem,
e 6 que pelo p.ouco que Ihe querem os seus naturaes, a trazem mais
remendada que a capa de pedintes.
Rodngues Lobo
- (Corte na aldeia, dialogo I).
y ) Dieses Lob der portugiesischen Sprache findet selbstverständlich nur
seiner kindlichen Naivität wegen hier seinen Platz.