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31. A Escripta.
De Deus 6 filha a alma intelligente; da alma intelligente 6 filha
a linguagem fallada; da linguagem fallada ö filha a linguagem escripta;
da linguagem escripta e filha a leitura; da leitura säo filhas as sciencias,
as artes, a civilisagao, a moral e a propria liberdade. —■
Era o papyro universalmente usado para a escripta no mundo
lätino; o que dava espantosos rendimentos annuaes ä cidade de
Alexandria, por onde o Egypto exportava essa materia prima da sciencia,
da historia, dos negocios. Muitos museos conservam boas amostras de
papyros manuscriptos d’esses tempos; os do Louvre foram achados quasi
todos em sepulchros.
Caiu o imperio, cairam os Cesares, cairam os deoses; sobreviveu-
Ihes o papyro; sobrenadou em todas as revoluqöes, com que asociedade
se transformava. Em Franga e Allemanha, era ja V e VI seculo da
era nova e ainda näo escreviam föra do papyro. — Sabe-se que nos
dois seculos seguintes sö predominou o pergaminho entre os povos do
Norte, por se haver tornado raro e custoso o papyro, em razäo das
devastacöes causadas pelos arabes nas partes do Levante, d’onde eile vinha.
Ainda, poröm, depois se tornou ao mestno papyro, jä outra vez
communissimo nos seculos XI e XII.
Por esses tempos se inventa no Occidente um papel, que, pela
abundancia, pelo ä-mäo da materia prima, e maior facilidade da fabricagäo,
desterra o papyro de todo e para sempre: 6 ja o papel de linho re-
duzido a polme, e alastrado em förmas como crivos ou peneiras. A mais
antiga folha, que citam existente, d’esta especie, 6 uma do anno de 1319.
Na China, segundo se diz, largos seculos havia que assim o
fabricavam de seda, algodäo, palha de arroz e outras substancias.
Tem a industria do papel de polme vindo a crescer at6 aos
nossos dias, e em nossos dias mais que nunca, sob as inspiragöes da
sciencia, com os incessantes progressos da chimica e da mechanica,
e pelas exigencias cada vez maiores d’estas devoradoras e insaciaveis
fome e söde de leitura.
Quem pretendesse abranger, mas que fosse em resumo, os processos
hodiernos da fabricacäo do papel, teria de c.ompor uma bibliotheca.
Consideremos sö, como mais uma prova da constante lei da per-
fectibilidade, consideremos quanto vae d aquella banca obliqua em que
o operario egypcio estendia, collava, sobrepunha, as tiras laboriosamente
apurädas do papyro, que ainda depois tinham de ser imprensadas,
brunidas, aprimoradas em Roma pelos Fannios, atö estas fabricas, em
que um operario mechanico, que näo dorme nem canga, corpo de ferro
e alma de fogö, de- cem bragos, de mil bragos, toma todas as materias
filamentosas, o linho, o algodäo, as malvas, a pita, a palha, a canna,
as limpa, as tritura, as branqueia, as estende em teias interminaveis, as
secca, as lustra, as corta, as ajunta, e diz ao homem: levanta-te, leva,
derrama na eivilisagäo, eivilisagäo nova! j p Q a ßß/ lg
(1800-1875).