61
consideramos como haveres tudo o que vale alguma coisa, acharemos
immediatamente que o habito d’esta virtude gera o amor do trabalho
e da boa ordern, a temperanga, a probidade, a independencia, a
sinceridade, a beneficencia, a affeigäo ä familia e, emfim, todos os
outros dotes d’älma, que d’estes nascem; veremos, tambem, que so
por via d’ella podem os homens alcangar repouso, e dar äs artes, äs
sciencias e ä industria o augmento que ö preciso dar-lhes.
A prodigalidade ou a dissipagäo das riquezas quasi que gera.
tantos vicios, qnantas virtudes a economia produz; quem quizesse
contä-los ver-se-hia no caso de tecer o catalogo da maior parte dos
maus habitos e miserias, que affligem o genero humano.
A pobreza e a ignorancia, que nascem do dispendio desregrado
das riquezas, carream quasi tres quartas partes dos crimes que se
commettem por toda a parte. A corrupgäo que o abuso das riquezas
facilita, e uma fonte näo menos abundante de vicios e de miserias.
Ao passo que a economia domestica 6 de todos os bons habitos
o que produz mais virtudes, e obsta a maior numero de vicios, 6
tambem aquelle que pöde ser tomado por mais avultado porgäo de
gente. Näo ha individuo nenhum que näo tenha interesse em ser
economico, logo que lhe seja dado se-io; e que, sendo-o, näo possa
fazer com isso grande beneficio, ou a si ou aos outros.
Ha virtudes que näo se praticam senäo em certas circumstancias
mais o menos raras; a clemencia, a generosidade, o amor da patria
a valentia e at6 a beneficencia, so em certas eccasiöes, podem exer-
citar-se. A economia domestica, pelo contrario, pöde e deve ser
posta por obra todos os dias: ö uma virtude de todos os momentos,
de todas as classes, de todas as profissöes, de todas as edades, e de
ambös os sexos. Pöde chegar ao fastigio da riqueza o artifice que
souber empregar o seu tempo e o seu diminuto cabedal, por pobre
que nascesse; e, se näo aicanzar a riqueza, alcangarä a felicidade;
ao mesmo tempo o proprietario abastado, se tiver o defeito de gastar
mais do que o que tem de renda, pöde vir a pedir esmola. Mais
seguro ate parece, e com razäo, o Capital do trabalho e da boa
economia, do que o de fazendas e casas, ou o d’um emprego rendoso,
que esse, näo o tiram os homens; estes, podem anniquillä-los as
revolucöes ou a fortuna.
Poucos ou nenhuns paizes haverä, em que falte o trabalho a
quem devöras o procurar: em toda a parte, pois, o homem laborioso
pöde empregar o seu cabedal, o tempo, e economisä-lo ou estraga-lo,
eonforme lhe aprouver. Indifferente ö o logar onde se vive: as mesmas
vinte e quatro horas, que o dia tem para o habitante da cidade,
tem para o que mora na aldea: tudo estä, no modo por que esse
tempo se gasta. D’isso depende a abundancia ou a miseria.
O uso e a applicagäo facilitam grandemente o trabalho: chega-
se assim a fazer mais avultada obra em menos espago de tempo.
Sendo mais avultada a obra, serä mais grossa a paga, e poder-se-ha
poupar mais do que d’antes, O que importä que uunqua esquega, 6-