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que, para quem trabalha, o tempo e riqueza, como para o ocioso a
causa permanente de ruina e pobreza. Se chegarmos a fazer em meio
dia o que nos leva hoje um dia, poderemos poupar o döbro; e o
triplo, se aperfeigoarmos o nosso trabalho. Empreguemos, pois, toda
a nossa energia no exercicio do nosso mistör; lembremo-nos de que
o tempo näo nos perdoa nem um momento; de que näo pararä ä
nossa espera: caminharä em quanto nos estivermos fazendo tengoes.
Tratemo-lo, portanto, como eile nos trata; näo deixemos passar uma
hora, sem d’ella tirarmos todo o proveito que podermos, porque, pas-
sada ella, näo hä correr-lhe apös para a agarrar.
O habito, assim como torna leve o trabalho, assiin torna a economia
facil. De pouco carece o homem para manter as forgas e ter saude.
E o estomago um mendigo que, quanto mais se Ihe dä, mais pede.
Tudo o que lhe ministramos a!£m do necessario, näo servirä senäo
para nos fazer seus escravos; e, se eile chegasse a sopear-nos, sujeitar-
nos-hia a todos aquelles que tivessem posses para satisfazer os appetites
d’elle. Depois de nos ter crivado de vileza, e de todos os demais vicios
que gera a escravidäo, acarretaria sobre nös uma velhice achacada,
vergonhosa e miseravel. Sejamos, pois, sobrios, se queremos ser livres;
porque, quem näo sabe refrear as propias paixöes, 6 sempre escravo
das paixöes alheias. Sejamos sobrios, se queremos ser ageis e robustos;
porque as doengas que produz a guta, säo mais numerosas do que as
que gera a pobreza. Sejamos sobrios, se queremos ser perspicazes;
porque os vapores que sobem do estomago, turbam o entendimento.
Sejamos sobrios, se queremos ser e parecer alegres; porque a mä
digestäo produz o pesar, o aborrecimento e o mau modo. Sejamos
sobrios, se principalmente queremos ter familia, e näo nos esquegamos
de que qualquer superfluidade que gastemos, 6 tirada do que pelo tempo
adeante serviria para as primeiras necessidades de nossa mulher e filhos.
E certo, todavia, que para a mocidade ha uma paixäo mais
perigosa do que a gula, e vem a ser a vaidade. Para dar mostras de
abastanga e riqueza fmgidas, as tres quartas partes da gente que ha
n’este mundo, sacrificam a abastanga e riquezas reaes: — mau exemplo,
para o havermos de seguir! Os respeitos que se alcangam por via de
mais aprimorada compostura, ou de mais arrfbicado trajo, säo sol de
pouca dura. Nas assembleas, 6 pelo vestuario que se avaliam as pessoas;
porbm nos negocios jä a coisa corre por outro modo. Nestes, o credito
e a confianga alcanga-se com a reputagäo de boa economia, e näo por
se gastar com mäo larga. Um homem laborioso e reportado que tem
sempre a olho os seus negocios e facenda, terä mais credito com um
trajo grosseiro, do que outro qualquer, que näo o seja, ainda que ande
coberto de ouro e azul.
Sö ajuntando sem cessar lucros diminutos ö que qualquer homem
pöde esperar vir a ajuntar sufficientes possibilidades para sustentar uma
familia: pelo mesmo modo, fazendo sem cessar diminutas despesas e