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que chegamos a dar cabo de grandes bens ou que nos pomos em estado
de nunca os ajuntar. Quando o artifice receber o salario da 'obra que
fez, vä logo arrecadar em logar seguro tudo o que d’elle poder poupar.
Dinheiro que se enterra näo da lucro, e o que se guarda na algibeira,
derrete-se mais depressa do que a prata em um cadinho. A fusäo ainda
6 mais acabada; porque tudo se resolve em fumo e em cinza.
Mas deveremos acaso trabalhar como negros sein a minima folga,
e sem piedade estar a fazer cörtes em tudo quanto gastamos? Näo:
nem 6 isso o que queremos dizer. Ninguem soffreria um continuo trabalho;
mas atö do repouso se pöde tirar proveito como as pessoas dadas a
estudos, ou occupagöes mentaes de qualquer especie, devem aproveitar
os seus. ocios em lavores mais grosseiros, cultivando, por exemplo, um
jardim ou um quintal, com o que avigoraräo os membros; do mesmo
modo as pessoas, cujo mister 6 de trabalhos manuaes, podem apro
veitar o repouso, cultivando o entendimento. Tennos occupadas todas
as faculdades ao mesmo tempo 6 coisa que nunca nos succede, e o
mais certo meio de näo deixar embotar nenhuma d’ellas e exercitar
umas, em quanto outras descangam. A leitura d’um livro bom pode
recrear as horas de folga que deixa o trabalho manual: ö occupagäo
esta que se pöde tomar, quando outra qualquer e impossivel, e tanto
mais que para 1er sempre se acha logar azado, quer se esteja em casa
quer föra d’ella; quer no campo, quer no povoado.
A cultivagäo do espirito torna o trabalho mais facil, e alarga a
estrada da fortuna, embaragando ao mesmo tempo o progresso de paixöes
arruinadoras. A vaidade para remontar os seus voos carece de largo
espago: logo que topa uma cabeca 6ca, aninha-se nella. Näo seja
a nossa d’essas se näo queremos que elia faga ahi seu assento, e trave
de nös atö nos precipitar na extrema ruina. Polindo o espirito, precaver-
nos-hemos dos perigos para a saude e para a bolsa, com que nos ameaga
a sensualidade. Menos custa um bom livro, que nos darä prudentes
conselhos toda a vida, do que um bom jantar. Se o prazer que nos
causa näo 6 täo vivido, 6 mais duradouro, e nunca nos estragarä nem
a saude nem o siso.
Herculcmo
(1810—1877).
37. Chronica financeira.
A situagäo geral dos mercados monetarios continua a ser excellente.
Depois de questäo turca que passou sem repercussäo nos centros finan-
ceiros, veiu a questäo marroquina que parece terä a mesma apagada
influencia que a outra.
A intervengäo imperial allemä para o reconhecimento de Muley-
Hafid ligeiramente influiu nas Bolsas que logo adquiriram a sua posigäo
normal em relagäo ao movimento de operagöes que n’esta epoca comega.
O discurso pacifico do imperador, ha dias pronunciado, veiu attenuar
a impressäo perturbadora que a questäo marroquina provocära. A abun-
dancia de dinheiro contribue para este effeito se bem que nos espiritos