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Retratos biographicos. 
39. Vasco da Gama. 
Sua primeira vSagen) ä India. 
D. Manuel, subindo ao throno no anno de 1495, resolveu 
continuar a empresa de seus antecessores, porfia magnanima que tantos 
sacrificios tinha jä custado. Ao infante D. Henrique haviam-se devido 
os primeiros trabalhos e tentativas que piepararam o descobrimento 
da India; D. Joäo II fundara na Africa o imperio portuguez, e deixara 
ao seu successor abundantes materiaes para o estabelecer na Asia; ao 
monarcha venturoso estava destinada a missäo de traduzir num facto 
estupendo este vasto projecto. 
Vigorosa foi, comtudo, a resistencia que D. Manuel encontrou 
nos seus conselheiros. Reprovavam estes o descobrimento como origem 
infallivel de ruina, lenibrando os riscos de mar e terra, o acanhamcnto 
do reino e dos seus recursos, a vastidäo e difficultade da conquista, 
e proponendo que a vida energica da metropole se applicasse exclusiva- 
mente a explorar as possessöes adquiridas, o que aliäs era jä difficil 
encargo para um povo täo pouco numeroso. Mas nem duvidas nem 
suggestöes abalaram a vontade do monarcha, que, na febre do enthusiasmo 
que o inicitava ä tentativa, como que antevia a aurora do triumpho. 
Encarregou, pois, de executar a empresa a Vasco da Gama, filho do 
alcaide-mbr da villa de Sines. Esteväo da Gama, e entregando-lhe em 
acto publico a bandeira, determinou a partida. 
Prestes a armada, que se compunha de duas naus, S. Gabriel e 
S. Raphael, da caravela Berrio, e d’um navio de mantimentos, embar- 
caram-se em Restello todos os que deviam ir na expedigäo, e que 
seriam cento e sessenta homens, entre marinheiros e soldados. Magestoso 
espectaculo otfereceram entäo aquellas praias. Era o dia 8 de julho de 
1497. O so] esplendido banhava de luz o lejo, as suas margens e a 
pobre ermida da senhora da i nvocacäo de Belem, ermida que o infante 
D. Henrique mandara construir para animar a devogäo dos maritimos, 
e que depois tinha de convefter-se no grandioso templo dos Jeronymos. 
D’ahi sahia uma procissäo, guiada pelos freires da ordern de Christo, 
e seguida de grande concurso de povo que, consternado, tinha vindo 
despedir-se dos ousados navegadores. O fito, que attrahia a multidäo, 
provinha do enlevo que excitam sempre as tentativas arrojadas, e esse 
sentimento achava-se ahi concentrado como no seu grande toco, ancioso 
pelas contingencias da viagem afflicto pela probabilidade das catastrophes, 
engrandecido pela communicacäo rapida, electrica, fascinadora, irresistivel 
de, tantos espectadores. 
Tristes estavam todos, excepto os que partiam, porque a esses 
animava o fervor e alvoroqo da empresa, näo obstante irem ciuzar 
mares nunca navegados, dobrar promontorios, evitar restingas, resistir 
äs tempestades e correntes, domar barbaros de Africa, combater os