Full text: XI. Jahrbuch der Export-Akademie des K. K. Österreichischen Handels-Museums (11)

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Estäo ja reunidos todos convivas, que säo cavalleiros respeitaveis 
e de posigäo, tanto da localidade como do Porto e algumas senhoras; 
na casa as criadas, com os fatos domingueiros, äpressam-se a dar os 
Ultimos retoques ä mesa, a pör as ultimas facas. Ve-se bem que se 
vae desempenhar uma grande »tragedia culinaria«. E uma hora da 
tarde, ahi temos jä na comprida mesa as papas do serrabulho feitas 
de milho e sangue do porco, e que fazem as vezes da sopa; 6 natural 
que näo fossem da predileccäo dos nossos compatriotas do sul, mas 
o nosso estomago cosmopolita, acha-as agradaveis; depois comeya o 
desfilar successivo das differentes eguarias n’uma abundancia täo grande, 
que esses grandes comilöes que se chamaram Lucullus, Trimalcion, o 
imperador Vitellius, os personagens de Rabelais, Gargantua e Pantagruel 
sentir-se-iam bem satisfeitos ä mesa e se pensassem em »limpar« as 
enormes travessas »näo dariam conta do recado«. 
Ahi chegam as miudezas do porco cozidas de sociedade com 
gallinhas, depois o verdadeiro »serrabulho« que 6 o sangue cozido e 
para quem gostar, adocado com mel (!) este exquisito pratö recordou- 
nos »Madame Chrysantheme«, a graciosa japoneza que Pierre Loti nos 
descreve comendo pimentos com assucär! Agora cabe a vez aos classicos 
rojöes, depois veem os filetes pannados, as costelletas, os pastellöes 
de batata, o lombo assado, as salladas, ervas, azeitonas, etc., tudo isto 
regado com os preciosos vinhos do Douro e com o »verde branco«, 
uma especialidade da regiäo. E tempo de nos convencermos, por uma 
vez, de que näo necessitamos nas nossas mesas dos vinhos estrangeiros, 
pois que os täo afamados Medoc, Saint Emilion, Sauterne, Chablis, 
Bourgogne e mesmo os hespanhoes Valdepehas e Rioja, em cousa alguma 
säo superiores ao nosso precioso Collares, aos Claretes do Douro, aos 
verdes brancos e tintos d’Amarante e a todas essas grandes variedades 
de vinhos da regiäo duriense. 
Ao prineipio, segundo o costume de todos os jantares, os con 
vivas säo todos ceremonias e pouco falam, mas na altura dos rojöes, 
caros leitores, a conversagäo principiou e a valer! 
Os ditos adequados ao jantar cruzam-se por todos os lados, a 
cavaqueira trava-se animada, discutindo-se tudo: a restricgäo do plantio 
de vinha, a foryanaval do Japäo, a melhor forma de preparar os presuntos 
e atö. . .se discute a politica da actualidade. 
Chegam agora as fructas, os doces caseiros, os »Champagnes« 
nacionaes, o cafe e os licores. Estamos certos de que Leibnitz, o velho 
philosopho allemäo, quando offereceu ä humanidade a celebre dirisa 
do seu optimismo »tudo pelo melhor no melhor dos mundos possiveis« 
tinha certamente o estomago bem cheio; foi debaixo da influencia 
d esse mesmo optimismo, ([ue os convivas se levantaram da mesa, onde 
estiveram mais de duas horas. 
M. R. d. Assis e Carvalho 
(Diario de Noticias, 30 de Janeiro 1908).
	        
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