Full text: XI. Jahrbuch der Export-Akademie des K. K. Österreichischen Handels-Museums (11)

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Levem-me de olhös tapados onde quizerem, näo me desvendem 
senilo no cafö; e protesto-lhe que em menos de dez minutos lfae digo 
a terra ein que estou se for paiz sublunar. 
Nös entramos no cafe do Cartaxo, o grande cafe do Cartaxo; e 
nunca se incruzou turco em divam de seda do mais esplendido cafö 
do Constantinopla com tanto goso de alma e satisfagäo de corpo, 
como nös nos sentämos nas duras e asperas täbuas das esguias ban- 
■quetas mal sarapintadas que ornam o magnifico establecimento bordalengo. 
Em poucas linhas se descreve a sua simplicidade classica: serä 
um paralellogrammo pouco maior que a minha alcova; a esquerda 
duas mezas de pinho, ä direita o mostrador invidragado onde campeam 
as garrafas obrigadas de liquor de amendoa, de cannella, e cravo. Pendem 
do tecto, laboriosamente arrendados por näo vulgär tesoira, os pingentes 
de papel, convidando a lascivo repouso a inquieta raga das moscas. 
Reina uma frescura admiravel n’aquellc recinto. 
Sentamo’-nos, respiramos largo, e entramos em conversa com o 
dono da casa, homem de trinta a quarenta annos, de physionomia 
experta e sympathica, e sem nada do repugnante villäo-ruim que ö 
täo usual de incontrar por similhantes logares da nossa terra. 
»Entäo que novidades ha por ca pelo Cartaxo, paträo?« 
— »Novidades! por aqui näo temos senäo o que vem de Lisboa. 
Ahi estä a »Revolugäo« de hontem. . . 
— »Jornaes, raeu caro amigo! Vimos fartos d isso. Diga-nos al- 
guma cousa da terra. . . 
() bom do homem visivelmente näo queria fallar mais: e näo 
deviamos importuna-lo. 
Sahimos a visitar o nosso bom amigo, o velho D., ä honra e a 
alegria do Ribatejo. Jä eile sabia da nossa chegada, e vinha no ca- 
minho para nos abragar. 
Pornos dar, junctos, uma volta pela terra. E das povoagöes mais 
bonitas de Portugal, o Cartaxo aceada, alegre; parece o bairro sub- 
urbano de uma cidade. 
Näo ha aqui monumentos, näo ha aqui liistoria antiga: a terra 
ö nova, e a sua prosperidade e crescimento datam de trinta ou qua 
renta annos, desde que o seu vinho comegou a ter fama. Ja descahida 
do que foi, pela estagnagäo d'aquelle commercio, ainda e comtudo a 
melhor coisa da Borda-d’agua. 
Näo tem historia antiga, disse; mas tem-n’a moderna e importantissima. 
Que memorias aqui näo ficaram da guerra peninsular! Que 
espantosas borracheiras aqui näo tomaram os mais famosos generaes, 
os mais distintos militares da nossa antiga e fiel alliada, que ainda 
entäo, ao menos, nos bebia o vinho: 
Hoje nem isso! . . . hoje bebe a jacobina zurrapa de Bordeos, 
e as acerbas' limonadas de Borgonha. Quem tal diria da conservativa 
Albion! Como pöde uma leal goella britannica, rascada pelos acidos 
anarchicos d’aquellas vinagretas francezas, intoar devidamente o God- 
save-the-King em um toast nacional!
	        
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