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A doqura que riiette n’alma a vista refrigerante de uraa jovem
seara do Ribatejo nos primeiros dias de abril, ondulando lascivamente
com a brisa temperada da primavera, — a amenidade bucolica de
um campo minhoto de milho, ä hora da rega, por meados de agosto,
a ver-se-lhe pullar os caules com a agua que lhe anda por pe, e ä
xoda as carvalheiras classicamente desposadas com a vide coberta de -
racimos pretos — säo ambos esses quadros de uma poesia tam
graciosa e cheia de mimo, que nunca a dei por bem traduzida nos
melhores versos de Theocrito ou de Virgiiio, nas melhores prosas de
Gessner ou de Rodriguez-Lobo.
A majestade sombria e solemne de um bosque antigo e copado,
o silencio e escuridäo de suas moitas mais fechadas, o abrigo solitario
de suas clareiras, tudo 6 grandioso, sublime, inspirador de elevados
pensamentos. Medita-se alü por forqa; isola-s.e a alma dos sentidos
pelo suave adormecimento em que elles cahein. . . e Deus, a etemidade
as primitivas e innatas ideas do homem — ficam unicas xro seu
pensamento ...
Viscond.e de Almeida-Garrett
(Viagens na minlia terra).
49. Historinha dos bois de Thereza.
Um d’estes dias, como eu estivesse accendendo um phosphoro
da fabrica de galliza, reparei nas figuras da caixinha. Uia um camponez,
embebendo n’um lenco as lagrimas do olho direito, e, com o biaqo
esquerdo estendido cariciosamente a um boi, dizia em hespanhol.
»Em vez de hijos tengo un buey, que me da grandes satisfacciones.«:
A satyrica reforencia que os nossos visinhos däo a este distico näo
a sei. 0 que se ve rnenos mal desenhado b um sujeito commovido a
prantos, affagando um boi, que, ä mingua de filhos, lhe dä muita
satisfacgäo. Isto, que näo e nada serio, nein era possivel sel-o n uma
caixa de phosphoros gallegos, a mim tocou-me ii alma com singulär
melaneolia, porque me trouxe ä lembranqa uma historia, que Antonio.
Joaquim me contou, depois que almogamos em Vallongo.
A liteira passou por entere uma grossa manada de bois que vinha
para o Porto, com destino a Inglaterra. Os corpulentos e nedios ru-
minantes caminhavam tristes, relanceando sobre a ruidosa locomotiva
os seus magnificos e languidos olhos. Se as duas pessoas, que iam na-
liteira, fossem gente pensadora, calculadora e versada em economias
politicas e outras sciencias attinentes ä prosperidade das nagöes, entia-
riam a discorrer sobre a conveniencia de mandarmos aos inglezes os
bois gordos, e comermos os bois magros por alto preqo. Recordarramos
espantados a estupidez de nossos paes que comiam bois gordos,
muito em conta, e elles mesmos andavam gordos, e tinham
muito dinheiro, sem mandar bois para Inglaterra, Da censuia
ä ignorancia de nossos paes, passariamos ao elegio de nossos sabios
contemporaneos, e dos magarefes, que aproveitam mais que os agrn